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A primeira cidade em que o programa de habitação se deu em larga escala foi Frankfurt, que também foi a única cidade alemã em que todo tipo de construção financiada pelo governo foi projetada por arquitetos radicais, o que não encontrou resistência de nenhum grupo expressivo. Trata-se de um caso especial, pois Frankfurt, já antes da guerra, possuía uma tradição de planejamento urbano, leis de expropriação que permitiam a aquisição de terrenos para parques e habitações, além das sociedades de construção mais progressistas. Em 1925, Ernst May, arquiteto adepto do Neues Baues, foi escolhido pelo prefeito para coordenar o recém-criado departamento de construção (Dezernent für Bauwesen) e uma grande equipe de arquitetos.

Além de ter uma grande liberdade na criação de planos urbanos, o escritório de May era responsável pelos pedidos de empréstimos federais e municipais

paraa construção. Até sua ida para Frankfurt, no entanto, Ernst May havia trabalhado com Raymond Unwin na Inglaterra e, entre 1919 e 1925, foi arquiteto e administrador de uma agência pública repsonsável por conjuntos habitacionais em importantes zonas industriais da Silésia. Curiosamente, até sua ida para Frankfurt, onde teve contato com o trabalho de Haesler, Taut e Gropius, May não havia trabalhado com as formas do Neues Bauen. O seu escritório criou, então, o programa Das Neue Frankfurt e, entre 1926 e 1930, pulicou uma revista de mesmo nome, que buscava demonstrar o novo estilo na arquitetura e no urbanismo como uma expressão adequada de uma "nova e definitiva metrópole cultural". Além dos periódicos, o programa também foi divulgado em um conjunto de quatro filmes mudos sobre a habitação mínima, a cozinha de Frankfurt, o Neues Bauen na cidade e a "fábrica de casas" do programa (uma indústria munipal de pré-fabricados). 

 

Desde os primeiros conjuntos habitacionais, apesar de serem pequenos, já se percebia uma completa ruptura com as formas tradicionais: o uso de cobertura plana, empenas lisas, cores chapadas, janelas dispostas de uma maneira irreverente, edifícios distribuídos ao longo do comprimento da rua etc. Também, desde o início, May deixou clara a sua vontade de criar comunidades com um certo caráter suburbano, reforçado pelo seu plano para a expansão da cidade, em que havia uma sucessão de anéis, separados um dos outros por parques e áreas cultiváveis, projeto que não foi realizado na escala pretendida. Esse desejo certamente deriva de seu contato com o movimento cidade-jardim na Inglaterra. Outros fatores reforçam esse aspecto suburbano da maioria das Siedlungen em Frankfurt: predominam os edifícios baixos acompanhados por grandes jardins, destinados ao cultivo de alimentos (o que é bastante compreensível, dada a situação precária do pós-guerra), os terrenos localizam nos limites da cidade, sendo ainda hoje considerados periféricos e, além disso, foram previstos diversos equipamentos dentro ou nos arredores dos conjuntos (escolas, comércio, consultórios, lavanderias coletivas etc.). No entanto, diferente das ideias do movimento cidade-jardim, não havia, no caso de May, uma intenção de que esses conjuntos fossem organismos independentes da cidade e nem de que se colocassem como uma forma de repúdio à cidade grande, industrial.

 

 

O sucesso do programa Das Neue Frankfurt e da diminuição do déficit habitacional deve-se a uma série de fatores. Em 1925, foi feito um plano de 10 anos, que previa a construção de 1.200 unidades habitacionais por ano, tendo essa meta aumentado para 4.000 em 1928. Em cinco anos (1926 - 1930) foram construídas 12.000 unidades, o dobro da meta inicial, sendo que, nesse período, 10% da população total da cidade morava em algum dos conjuntos produzidos pelo programa. Uma das principais formas de obtenção de verbas deve-se a uma lei de 1924, que previa que 44% dos impostos relativos à habitação arrecadados fossem repassados para o programa. Para que os aluguéis pudessem ser pagos também pelas camadas mais pobres, estava regulamentado que eles não deveriam ultrapassar 25% da renda familiar. Então, a fim de baratear os custos da construção e tornar o valor

do aluguel o mais baixo possível, foi necessário incentivar o uso de pré-fabricados. O próprio escritório de May possuía uma subdivisão, responsável pela produção de elementos pré-fabricados em uma indústria municipal, criada especialmente para o programa, conseguindo produzir pré-fabricados por um valor mais baixo do que o de mercado. Não menos importante foi a ideia de unidades mínimas de habitação, que, em 1929, foi tema do 2º Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (Die Wohnung für das Existenzminimum - A moradia para a existência mínima), sediado em Frankfurt. A compactação das unidades habitacionais talvez tenha sido o único ponto que gerou alguma controvérsia na mídia, principalmente na proposta de móveis embutidos, mas não muito expressiva. A minimização dos espaços deu-se sobretudo nas áreas íntimas, dando um certo privilégio à sala

de estar, onde deveriam acontecer as atividades da família, em relação aos outros espaços. May e sua equipe não só se responsabilizaram pela produção de elementos construtivos pré-fabricados, como também pelo design de diversos móveis e aparelhos, pensados para "encaixar" nesses espaços racionalizados, de modo que a diminuição espacial não oferecesse obstáculos às atividades e funções dentro do lar. O mais emblemático exemplo, desenhado no escritório de May pela arquiteta austríaca Margarete Schütte-Lihotzky, é a cozinha de Frankfurt, então colocada como um espaço

de trabalho, o qual deveria ser otimizado através de um desenho racional: houve um estudo dos movimentos da dona-de-casa, desde o preparo dos alimentos até a organização e a limpeza, criando-se uma lógica espacial, dinamizada pelos armários embutidos, que economizasse tempo e força. Se, diante das demandas urgentes, não houve muito espaço para experimentalismos no desenho urbano dos conjuntos ou no tratamento das fachadas, no interior das unidades, as inovações transformam completamente as plantas tradicionais.

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